quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Sobre a importância de ler imagens

O post de hoje é diferente. Saio um pouco do campo específico da Arte para falar sobre imagens de uma forma mais geral, sobre a linguagem visual. O tema é bem extenso, e este post é apenas uma introdução.
Vivemos mais do que nunca rodeados por imagens. Tiramos selfies, vemos fotografias nas redes sociais, no noticiário, na publicidade. Essas imagens sempre trazem consigo mensagens, que podem ser mais ou menos objetivas. Mesmo sem percebermos, essas mensagens chegam até nós. E é importante prestar atenção na mensagem contida nas imagens, para poder fazer uma leitura crítica delas, e até para filtrar um pouco esse contingente de informação que chega até nós diariamente. 
As imagens são algo muito poderoso. Elas contam histórias, e ouvir histórias é uma necessidade do ser humano; a tradição é feita com histórias. Elas criam significado e nos ajudam a entender o mundo em que vivemos, e as situações que nós vivemos. 


Pintura rupestre do Parque Nacional da 
Serra da Capivara. 
Foto do site www.suapesquisa.com
Na pré história, a relação do homem com as imagens, até onde sabemos, era a da magia. É a hipótese mais provável. As pinturas pré-históricas tinham uma função prática, para concretizar ações, como a caça, a proteção contra maus espíritos, entre outras coisas. 
E ainda hoje existe um resquício dessa função mágica da imagem em nossa mente. Na faculdade de Artes, eu li aquela bíblia chamada A História da Arte, de Gombrich. No primeiro capítulo aparece um exemplo ótimo para mostrar como a nossa relação com as imagens não é assim tão racional como supomos: imagine pegar o jornal de hoje (de papel ainda, que o livro é de 1950) e recortar o retrato do seu "campeão favorito" (também pode ser a fotografia de uma pessoa querida). Você sentiria prazer em furar os olhos dessa imagem com uma agulha? A sensação seria exatamente igual se você fizesse furos em outra parte do jornal? Pois é, a gente sabe que nada vai acontecer com a pessoa retratada, mas não deixa de ser desconfortável.
Então é preciso pensar no que as imagens que chegam até nós estão transmitindo. Sabemos que a publicidade, por exemplo, vende muito mais do que produtos; vende ideias, estilo de vida. Uma fotografia, apesar de parecer uma representação fiel da realidade, não é uma imagem neutra, isenta de interpretação. 
A pose do retratado pode trazer diferentes interpretações; assim como o ângulo de visão. Quando a fotografia é tirada de um ponto um pouco acima da pessoa retratada, essa sutileza faz com que estejamos acima dela quando vemos o retrato. Como resultado, a pessoa pode parecer menor, inferior, em uma posição a ser julgada. Da mesma forma, se o retratado é visto um pouco acima de nós, pode passar a ideia de poder, de grandeza. Isso aparece bastante no cinema e nas histórias em quadrinhos.


Cena do filme O Poderoso Chefão. A câmera baixa enfatiza a posição
de poder 
do persnonagem.

Página da HQ Sin City, de Frank Miller. À esquerda, câmera alta, mostrando 
vulnerabilidade. À direita, câmera baixa, evidenciando o poder. Este também
é o ângulo que as personagens estão se vendo, o que faz o expectador
ter a visão do possível opressor e do oprimido, sucessivamente.
























Quando o corpo de uma mulher aparece recortado, em close, e tudo o que importa são suas formas e seu apelo, está retratado como um produto (e essa é só uma das formas em que a mulher aparece como produto). E se aparece assim tantas e tantas vezes, fica a sensação de que isso é normal. Se, ao contrário, a mulher for retratada como sujeito, será valorizado o que ela pensa, o que sente, a que aspira. Essa é a diferença fundamental.
Peça publicitária da Skol. A marca já em histórico de publicidade que 
objetifica as mulheres.




















Publicidade do perfume Paco Rabanne. Imagem do homem em 
uma posição de poder (mas também com tendencia a 
objetificação...)



























Vale lembrar que na publicidade a representação do homem também tende a ser estereotipada, como o provedor, dominador ou agressivo. Mas felizmente aos poucos têm surgido empresas buscando fazer diferente.
Esses são apenas alguns exemplos de tipos de representação que são comuns atualmente. Muitos outros aspectos podem ser analisados, como o que as pessoas estão fazendo, qual a sua função, a sua posição... Observe as capas de revistas, as imagens dos jornais, da publicidade, dos filmes e seriados. O que elas dizem para você? Com isso os meios de comunicação estão sendo éticos? Estão buscando mudanças ou reforçando estereótipos nocivos?
Em artes as mensagens tendem a ser menos objetivas. É característica da arte ser mais aberta a interpretações, com possibilidades de significados diversos. Ainda assim, as mensagens estão presentes, podendo ou não alcançar o espectador. Como artista, eu me preocupo com as mensagens que estou transmitindo. Por isso existem conteúdos específicos que coloco nas obras que produzo. Questões como a introspecção, o encontro consigo mesmo, a harmonia com o ambiente, tem aparecido em meu trabalho. 
Serpente III, Amanda Branco. Van Dyck sobre algodão. O corpo aqui não é 
objeto, mas parte do sujeito, e meio de auto expressão.





















Para complementar essa reflexão, eu gostaria de recomendar: 
Este trecho do filme Janela da Alma, de João Jardim e Walter Carvalho. É um video curto e fácil de entender. Aqui, o escritor José Saramago e o cineasta Wim Wenders dão depoimento sobre a importância das imagens. 
-Para quem quiser se aprofundar no assunto, o livro Modos de Ver, de John Berger. O livro mostra a influência da tradição da pintura nas imagens da publicidade; e como os valores  reaparecem contemporaneamente. 

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

L.O.T.E., e Mais Cianótipo

Montagem da exposição.

























Amanhã, 6 de setembro (terça-feira), é a vernissagem da mostra  L.O.T.E. - Lugar, Ocupação, Tempo, Espaço. É um evento que acontece no Instituto de Artes da Unesp, realizado pelo Grupo de Pesquisa coordenado por Agnus Valente -meu orientador do mestrado-, José Spaniol e Sérgio Romagnolo. A mostra conta com o trabalho de estudantes do Instituto de Artes, egressos e também estudantes de outras universidades.
A proposta é dividir o espaço interno e externo do Instituto em lotes, e cada participante pode ocupar com ações ou produções livres.
Participo da mostra com três fotografias em cianótipo, que fazem parte da série Circense.  São diferente das do post anterior, pois uma fotografia artesanal nunca é igual à outra. Nestas imagens da mostra eu brinco mais com a pincelada ao aplicar a emulsão, enfatizando o fazer artesanal. Uma das fotografias expostas apresenta resultados inesperados, com manchas amareladas. Esse "erro" do processo cria novos significados.
O personagem fica menos visível, e a imagem ganha mistério, interesse. A fluidez da pincelada e a falta de controle do resultado final são amostras do que pode ser trabalhar com fotografia artesanal. Os químicos e papel podem ter vontade própria, a luz pode variar. Podemos contornar os imprevisto, tentar novamente, aprender (muito) com os erros, mas também podemos aceitar de bom grado o imprevisto, a mancha, a história daquela fotografia em particular.



L.O.T.E. 2016
Instituto de Artes da UNESP câmpus São Paulo
Rua Bento Teobaldo Ferraz, 271, Barra Funda (Literalmente ao lado da estação Barra Funda)
06/09 a 22/0
Vernissage: 06/09 - 19h
Com Apresentação do grupo musical Voliere, com Leo Arruda (bateria); Bernardo Brasil (baixo e vocal); e João Elbert (guitarra)
Finissage: 22/09 - 19h
Com apresentação do grupo musical Quintal.