quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Por Uma Arte Mais Diversa

No último fim de semana tive o privilégio de participar de uma aula com a artista e pesquisadora Rosana Paulino, sobre gênero e etnia na produção visual contemporânea. Aula incrível, com muito conteúdo, e muitos artistas que eu não conhecia (muitos mesmo!) 
E essa aula me fez voltar a alguns questionamentos, sobre o que vemos no main stream dos circuitos comerciais de arte, nas exposições, nas universidades de arte, nos livros. No geral: artistas homens, brancos, da Europa e Estados Unidos. Já me disseram que o livro A História da Arte, de Gombrich, que é uma grande obra de referência no assunto, não mostra uma única artista mulher em suas 688 páginas. Antes do século 20 praticamente não há mulheres na história da arte, e também não há negros ou indígenas. Não que essas pessoas não estivessem produzindo arte, mas simplesmente não eram consideradas. E agora elas fazem sim parte da história da arte, mas certamente não na mesma proporção que os homens brancos.
Nicola alada, inspirado em Bacon. Nicola Constantino.
173x135 cm. Impressão a jato de tinta. 2010. 
Argentina
http://nicolacostantino.com.ar/
































Quando fiz a graduação em artes visuais, foram apenas dois semestres de história da arte do Brasil. E mais um de cultura popular, que também ajudou: foi quando eu comecei a me interessar por culturas indígenas.

É verdade que a graduação em Artes Visuais, com 4 anos de duração, é pouco tempo para se ver toda a "História da Arte". (O que na verdade é trabalho gigantesco!). Mas, pelo viés que costuma ter, poderia se chamar História da Arte da Europa, não é? 
Não costumamos ver arte de outros países, quase não conhecemos nada dos nossos vizinhos da América Latina, salvo um ou outro mais conhecido, como Frida Kahlo, Diego Rivera, Botero.
MULHERES TALLANES, Mayy Koffler. 2008 Brasil.
www.mayykoffler.com





















Para constar, agora no mestrado, o conteúdo é um pouco menos centralizado em Europa e Estados Unidos. O ponto alto para mim nessa questão, até o momento, foi quando a crítica de arte Mariza Bertoli foi convidada a dar uma palestra sobre arte da América Latina. Palestra que também foi maravilhosa, trazendo esse conteúdo tão necessário de artistas do Brasil e América Latina.

Mas, para além da América Latina, eu tinha curiosidade sobre a arte de outros cantos do mundo. E os artistas dos países da África, os da China, da Índia..? A arte japonesa? E a da Austrália? O livro Uma Nova História da Arte, de Julian Bell, traz uma visão um pouco mais ampla de Arte Mundial, ainda que com pouquíssimas artistas mulheres. Vale a pena dar uma olhada.
























Quando estava fazendo o TCC na graduação, estudei um pouco de cultura indígena. Desde então comecei a achar estranho como quase não temos informação, pouco ou nada estudamos de arte indígena na faculdade, e pouco conhecemos sobre essas culturas, que existem aqui mesmo no nosso país. Vemos um pouco em alguma aula de história, mas é geralmente uma visão parada no tempo, como se os indígenas de hoje vivessem da mesma forma que viviam na época da colonização do Brasil. Deixo aqui um link para vocês verem que esses povos estão produzindo vídeos. Sim, vídeos, pois estamos em 2017.
Mana Huni Kuin, 2012. 
MAHKU – Movimento dos Artistas Huni Kuin.
Brasil.
facebook.com/movimentosdosartistashunikuin/




























Quando reduzimos a história da arte à produção europeia ou estadunidense, produzida por homens brancos, estamos estreitando a nossa visão, pegando apenas uma pequena parcela dessa produção mundial de conhecimento. Estamos ignorando uma enorme riqueza cultural e artística, com singulares visões de mundo.
E pior, a mensagem que fica é que o que os povos não brancos e as mulheres tem a dizer não importa. Que as culturas diferentes da dominante são inferiores, e não acrescentam nada. É mais uma forma de perpetuar a dominação, a visão de superioridade do branco europeu, e de invisibilizar os conflitos.
"Se alimenta mi espiritu (My Soul is Nourished)" by Manuel Mendive, 2007. 
Acrílica sobre tela, 65 3/4 x 95 polegadas. Cuba.
Cortesia do Ramon and Nercys Cernuda Collection.
https://g.co/kgs/chwBK6





















E o que é que podemos fazer para mudar isso? Como podemos levar essa arte, esses artistas,  para as galerias, os museus, as universidades, para o conhecimento das pessoas? Acho que não há uma resposta óbvia. É preciso buscar essa mudança. Lutar para aos poucos ir mudando esse racismo e machismo estruturais. Promover mais cursos, exposições e pesquisas que abracem a diversidade. Divulgar o que já existe. E trazer o assunto para discussão!

Ainda Dá Tempo!

Exposição Diálogos Ausentes, com curadoria de Diane Lima e Rosana Paulino: trabalhos de artistas negros, com temas relacionados à cultura e o racismo.
Até 29 de janeiro. Itaú Cultural - Avenida Paulista 149 São Paulo [Estação Brigadeiro do metrô] fone 11 2168 1777
http://www.itaucultural.org.br/programe-se/agenda/evento/dialogos-ausentes-mostra/

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Começando o ano com fotograma de cianótipo!

Olá pessoal! Estou começando agora o ano aqui no blog! Desejo que 2017 seja um ano de realização, em que possamos buscar o que queremos fazer. 
Então, hoje voltei ao laboratório de fotografia para fazer alguns experimentos em cianótipo. Aqui eu não usei negativo. Em vez disso, coloquei um objeto sobre o papel, para demarcar sua silhueta. É uma prática que se chama fotograma, e foi usada por fotógrafos como Lázló Moholy-Nagy e Man Ray. É interessante saber que dá para fazer fotografia sem câmera alguma; nem mesmo a caixa de papelão ou lata do pin hole é necessária aqui.



Mas voltando aos meus experimentos de hoje, a maioria não deu muito certo. Aliás, se você pretende trabalhar com fotografia artesanal, saiba que isso pode acontecer bastante! Às vezes o imprevisto é lindo, e outras vezes não. E quando se está fazendo experimentações, no caso usando objetos tridimensionais, a chance de as coisas não ocorrerem como o esperado é maior... Faz parte.

Bonecos de binhinhos sobre o papel emulsionado. Pareceu uma boa idéia.

Depois de exposto à luz, pareceu que ia rolar.





































Depois de reveladas, ficaram apenas coisas disformes o.o















Uma das fotografias, porém, teve um resultado promissor. Em vez de aplicar a emulsão com pinceladas, eu derramei sobre o papel, de forma bem irregular. Se Pollock fizesse fotografia artesanal, seria mais ou menos assim. rs
Usei alguns ramos colhidos no quintal, que nasceram espontaneamente no meio do chão de pedra.
Como montei os ramos sobre o papel emulsionado, cobertos por uma placa de 
vidro para expor à luz.


E a imagem já revelada.



































Agora quero usar essa técnica de derramar a emulsão para trabalhar com negativos novamente... Em breve posto os resultados!