terça-feira, 30 de agosto de 2016

Cianótipo e o Ensaio Circense

Para mostrar os processos fotográficos artesanais, escolhi começar com o cianótipo.
O cianótipo é uma das técnicas mais fáceis de fazer, pois só precisa de dois químicos, e a revelação é
feita em água corrente. Basicamente a substância fotossensível é uma mistura de soluções de ferricianeto de potássio e citrato de ferro amoniacal. Essa mistura tem cor amarelo claro,  mas o resultado final é em tons de azul.
Porém, por conta de algum mistério, quando eu preparo com os químicos que comprei, a cor da mistura já é azul bem escuro. Convido aqui o leitor que souber o porquê a deixar um comentário...eu realmente quero descobrir!
Prosseguindo, esse papel sensibilizado é exposto à luz em contato com o negativo. Nesse caso, praticamente só a luz do sol resolve...outras fontes de luz são fracas!  Posteriormente, a imagem é revelada em água corrente. Depois o papel é seco, concluindo o processo. Para quem quiser se aventurar, a receita está bem explicadinha aqui no Alternativa Fotográfica.
Ensaio Circense I, 2012. Cianótipo sobre papel.


















O Ensaio Circense foi feita com esta técnica. A captação das imagens foi feita com uma toy câmera. Realizei o ensaio com o Alan Quinquinel, meu colega nos tempos da faculdade de Artes na Unesp. Depois ele começou a se dedicar às artes do corpo, o que ele faz muito bem!
Naquele dia nos encontramos por acaso no circo do Instituto de Artes. Eu estava com uma câmera Lomo, e pedi para fotografar enquanto ele praticava. A iluminação estava baixa para fotografar com câmera de brinquedo, era ambiente interno, eu só tinha um filme ASA 200, e estava sem flash. Trabalhar com duplas exposições (como mostrei no post Começando) foi uma forma de contornar o problema da iluminação, e gerou resultados mais interessantes do que se eu estivesse trabalhando nas condições ideais de  iluminação.
Ensaio Circense II, 2012. Cianótipo sobre papel.

























Em alguns momentos as duplas exposições revelam a passagem do tempo, mostrando posições consecutivas no espaço, e em outros, é a câmara que muda de posição, criando possibilidades diversas, posições opostas.
O trabalho corporal do Alan combinou com as experimentações na composição. Criamos leveza nessas imagens, de um ser transparente, flutuante, brincando e se expressando com o corpo.
Ensaio Circense III, 2012. Cianótipo sobre papel.

Ensaio Circense IV, 2012. Cianótipo sobre papel.



segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Mas afinal, o que é fotografia artesanal?

Quando as pessoas vêem meu trabalho, me perguntam como eu “imprimo” as fotos. Na verdade não é  uma impressão, e sim revelação.
Animus, 2013. Variação de cianótipo com viragem de chá preto sobre papel.




















Para entender o que é fotografia artesanal, precisamos relembrar o que é um papel fotográfico. O papel fotográfico é um papel produzido industrialmente, que tem uma superfície coberta por uma camada de emulsão sensível à luz. Essa substância é uma gelatina combinada a sais fotossensíveis.
Quando esse papel é exposto à luz (por exemplo, a luz do ampliador em um laboratório), as partes que receberam luz reagem, e as partes que não receberam luz não reagem. O papel continua branco, mas quando é mergulhado na solução do banho revelador, a imagem começa a aparecer.
Quem já teve experiência em laboratório fotográfico sabe que esse processo é meio mágico. Por mais que estejamos acostumados às facilidades da tecnologia digital, ver a imagem surgir no papel é outra história! 

Depois do banho revelador, o papel é mergulhado em um banho interruptor e depois no fixador. Por ultimo, o papel é lavado em água corrente. Esse é o processo para revelar uma imagem no papel fotográfico PB.
Quando estamos falando de fotografia artesanal, o processo é parecido. Mas, em vez de usar o papel fotográfico, o artista/fotógrafo usa um papel comum, e aplica manualmente uma emulsão fotossensível. Outra aspecto é que não há ampliação, então a imagem final será do mesmo tamanho do negativo/matriz.
A Praia, 2012. Goma bicromatada sobre papel.






















Ensaio Circense II, 2012. Cianótipo sobre papel.




























Para as minhas fotos, eu preparo a emulsão com os químicos e depois aplico em um papel (geralmente papel de aquarela, que absorve sem ficar encharcado). Depois de seco, coloco em cima do papel o negativo da imagem a ser feita (pode ser um fotolito, ou uma imagem impressa em uma transparência) e por cima uma placa de vidro, que serve para manter o negativo junto ao papel. Esse conjunto vai ser exposto à luz (geralmente a luz do sol), e depois revelado em banho químico, que varia de acordo com a técnica.
Montagem do papel sensibilizado com o negativo e o vidro por cima.



















Como o processo é artesanal, é bastante impreciso. As tonalidades podem ficar diferentes de uma cópia para outra, pode ficar mais ou menos escura, mais ou menos contrastada. Tudo isso faz parte da aventura de trabalhar com fotografia artesanal: uma imagem nunca fica igual à outra.
Existem diversas técnicas de fotografia artesanal; eu já realizei trabalhos com Van Dyck Brown, Cianotipia e Goma Bicromatada. Em breve escreverei sobre cada uma.

Para quem quiser se aprofundar no assunto, recomendo o livro Fotografia Pensante, de Luiz Monforte, que traz as "receitas" dos processos alternativos de fotografia. O livro está esgotado faz tempo, mas vale a pena procurar em sebos e bibliotecas. O blog Alternativa Fotográfica também tem um bom conteúdo, com as experiências de Fabio Giorgi.
Fotografia Pensante, o livro que foi o meu guia para começar.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Um pouco sobre filmes

Para mostrar um pouco mais do processo das fotografias do primeiro post, trago aqui o resultado do cromo revelado em processo cruzado. 
Filme do tipo cromo revelado como negativo.





















Filme 120 e filme 35mm, escaneados.






















Contra luz dá para ver bem os detalhes, até pelo fato de ser de médio formato (filme 120). Como aparece na imagem acima, o médio formato é diferente do de 35 mm, que era mais comum até a popularização da fotografia digital. O médio formato é maior e não tem os sprockets, os furinhos. Os filmes 35 mm eram originalmente usado no cinema, e os furinho eram úteis para movimentar o filme durante a projeção.
As Toy Cameras Diana, de médio formato, e a Diana Mini, de 35 mm.


















Trabalhar com filme é um pouco nostálgico. Até uns 15 anos atrás, era a norma para fotografar. A gente não via o resultado na hora, era necessário terminar o rolo e levar pra revelar...o que poderia demorar! Mas era uma boa experiência, principalmente na hora de ver as fotos. Às vezes, meses depois de serem feitas.
Deixo claro aqui que não quero ignorar o avanço da fotografia digital. Eu adoro a praticidade de fotografar com o meu celular, e não acho que todos deveriam voltar a usar câmeras analógicas. Só espero que o filme continue sendo uma opção por bastante tempo ainda. Entre 2 e 8 anos atrás, aproximadamente, houve uma moda dessas câmeras de brinquedo, como as Lomo, o que levou bastante gente a se interessar por fotografia analógica. Buscavam aprender a técnica ou fotografar de forma bem experimental. 
Atualmente tem sido cada vez mais difícil encontrar onde comprar e revelar, e  muitas pessoas mais jovens  nem conheceram a fotografia além do  digital. Alguns meses atrás, minha sobrinha de 6 anos pegou uma das minhas câmeras analógicas e veio me perguntar, curiosa, como é que eu conseguia usar aquela câmera, que não tinha uma telinha atrás. Foi a oportunidade para ela conhecer o filme!
Filmes 120 e 35mm


quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Começando

Olá, meu nome é Amanda Branco, sou artista visual e inauguro este blog para compartilhar minhas experiências em Arte e Fotografia, além de mostrar alguns artistas e fotógrafos que admiro e que me influenciam de alguma forma.


Série Paraty, 2012. Fotografia feita em processo cruzado.
As manchas avermelhadas são vazamentos de luz, provavelmente na hora
 de colocar ou tirar o filme da câmera
Há algum tempo venho produzindo imagens de forma mais experimental, com técnicas artesanais e também com câmeras analógicas rudimentares. Para começar, quero mostrar um pouco do meu trabalho com toy cams, "câmeras de brinquedo".

Algumas destas câmeras são menos automatizadas e abrem mais espaço para a criação no momento do clique. Lembrando que a câmera é instrumento, a criatividade está no fotógrafo.
As imagens abaixo foram feitas com dupla exposição: expondo duas vezes o mesmo frame antes de avançar o filme, ou avançando parcialmente o filme para fazer o segundo clique.
São panoramas da paisagem de Paraty, tomadas à beira mar. As cores estão "desequilibradas" porque o filme era do tipo cromo e foi revelado como negativo (processo cruzado). Nesse caso, gerou tons mais quentes e vibrantes.
Eu particularmente gosto muito da transparência nessas imagens; ela cria leveza, pelo ato de quebrar as regras e brincar um pouco com a câmera, e também por apontar para uma impermanência das coisas.




Série Paraty, 2012. Fotografia feita em processo cruzado.
Essas três imagens feitas com dupla exposição.