segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Sobre Pintura Corporal

Pintura corporal para a série Religare, 2017

















As pinturas corporais aparecem em vário dos meus trabalhos, é uma parte importante da minha produção. Como mencionado no post sobre a Série Serpente, esse processou surgiu a partir de estudos sobre as pinturas corporais indígenas. É um tema que me pegou. A decoração da pele me atrai bastante, fico fascinada por grafismos corporais e tatuagens também - apesar de não ter nenhuma até o momento.

Na minha produção, o ato de se pintar aparece como um ritual, podendo ser bem demorado dependendo do que se faz. Algumas pinturas que fizemos (o Aldrin e eu) levaram 8 horas para ficar prontas. Isso por que é um trabalho minucioso, desenhando cada grafismo. É necessário se concentrar no momento presente,  no que se está fazendo -  o que pode ser prazeroso, e um alívio para a mente acostumada com a multitarefa.

Os padrões repetido sobre corpo parecem criar um efeito hipnótico. Ter o próprio corpo pintado é uma experiência, uma vivência. Entre alguns povos indígenas,  a pintura corporal é usada em rituais, simbolizando uma transformação. E isso é algo que pude sentir nas vezes em que tive o corpo pintado. A pintura parece ter esse poder de transformação. 

Ao longo dos anos experimentei diferentes materiais para a pintura: lápis de olho, que funcionou para pequenas áreas do corpo, urucum e henna, que foi frustrante: não consegui um bom resultado com nenhuma das duas. O que eu pintei saía facilmente com água ou suor; com canetas hidrográficas, que funcionaram bem; delineador e uma pintura facial líquida, que não tiveram um resultado tão bom; e pancake artístico. Esse funcionou muito bem.

Além do material, também fomos desenvolvendo a técnica, a forma de pensar e dividir o corpo para a pintura ficar bem distribuída. Como as formas do corpo são irregulares, o processo é muito diferente de desenhar sobre uma superfície plana. Abaixo estão algumas das pinturas que realizamso tendo o corpo como suporte.

Primeiros experimentos com lápis de olho, para a série Grafismo, de 2008.

















Mais desenhos para a série Grafismo.

















Imagem para a série Grafismo, 2008.
























Imagem "crua" para a série Serpente,  2009.



















Aldrin se pintando para a serie Animus (2012).



quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Serpente no Shape e a Fotografia Expandida

Como artista visual, a fotografia é para mim uma ferramenta, tanto quanto a ilustração e a pintura. É mais uma forma de construir imagens, como uma ficção, que pode seguir a mesma lógica do cinema (um roteiro, uma pré-produção, produção e pós-produção).
Esse movimento de tratar a fotografia não só como registro da realidade, mas com intervenções diversas foi chamado por Andreas Muller-Pohle e Rubens Fernandes Junior de Fotografia Expandida, tema que abordei na minha dissertação de mestrado.

O Shape, de 2014, foi a primeira fotografia que revelei sobre madeira, feita em goma bicromatada. É um bom exemplo das diversas intervenções que faço sobre a imagem fotográfica. Usei aqui um negativo da Série Serpente, que aparece repetido, em cima e embaixo, e cada figura olha para uma direção, remetendo à dualidade, a opostos complementares. Ao fundo o desenho da mandala feito com lápis de cor une as duas figuras, que então parecem fazer parte de um todo mais complexo.

Uma parte interessante do processo é que como não atuamos apenas como as técnicas fotográficas já previstas, muitas vezes é necessário inventar a própria técnica. Normalmente para a revelação da goma bicromatada eu uso uma placa de vidro para manter o suporte e o negativo unidos e garantir uma imagem nítida. Como no caso o suporte não era totalmente plano, a placa de vidro não seria eficiente para essa função. A solução que encontrei foi recortar o negativo no formato do shape e embalar o conjunto do suporte com o negativo usando filme plástico PVC. A exposição à luz foi realizada em dois momentos, usando o mesmo negativo e mantendo a parte oposta do shape coberta com um papel cartão preto.

Este trabalho começou bem antes da realização do clique fotográfico, e se estendeu bastante depois. Houve um planejamento da pintura corporal que foi feita para série Serpente, depois alguns testes da pintura corporal, e enfim foi realizado o ensaio fotográfico. Depois, o tratamento das imagens, a impressão do negativo digital que foi usado para este trabalho, para então realizar a revelação nesse shape, e por fim foi realizado o desenho da mandala no fundo. Então percebemos que a fotografia faz parte, mas a obra vai além. Todo o processo é importante, e está relacionado com o que eu quero transmitir com a imagem, com a minha poética pessoal: busca pela introspecção e desenvolvimento da espiritualidade.

O negativo, já meio destruido, com uma 
marcação de caneta corretivo branca para
fazer o recorte



























Shape, 2014. Amanda Branco
Criado para a Mostra Sk8art4life





























































segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Exposição Religare - 2017

Na abertura da exposição
















Enfim começamos 2018! Que tenha artes, fotografia e experiências para compartilhar!

No fim de 2017 tudo aconteceu muito rápido. Finalizei a minha dissertação de mestrado, realizei a defesa e a exposição, que foi a primeira individual desse porte, e durou poucos dias; nem consegui um tempo para escrever aqui! A exposição aconteceu entre os dias 6 e 8 de Dezembro, na Galeria do Instituto de Artes da Unesp. Agora gostaria de mostrar um pouco para quem não pôde ver pessoalmente.

Religare é uma expressão em latim que significa “religar”, “reunir o que foi separado”. O trabalho aqui desenvolvido traz a poética de buscar reunir a pessoa fragmentada, que vive em um ritmo frenético de trabalho e informações cada vez mais onipresentes, com as tecnologias digitais. Sem tempo de silenciar a mente, sem tempo de se conectar a si mesmo e ao momento presente.

A Série Religare enfoca a busca por uma introspecção, pela ancestralidade e pelo sagrado, com a produção artesanal de imagens e o enfoque no corpo. Algumas imagens fazem alusão a posturas de Yoga — arte milenar praticada pela artista há alguns anos, e que tem por objetivo reunir corpo, mente e espírito. O corpo, instrumento da ação humana, traz a intenção de estar presente na ação, sem se preocupar com o futuro ou remoer o passado.

A série apresenta a própria artista como modelo com o corpo coberto por grafismos, releitura de pinturas corporais indígenas. A produção é híbrida, unindo a captação digital das imagens a processos artesanais: o desenho sobre o corpo e a revelação com o processo fotográfico goma bicromatada.

As imagens se propõe a deter o olhar. Esse pode ser um começo para que o fruidor cesse um pouco os pensamentos sobre outros tempos, pessoas e lugares, e preste atenção no que está diante de seus olhos.

Além das imagens produzidas da série Religare — que continua em desenvolvimento — a exposição também apresenta o seu processo, que reúne técnicas antigas e novas. São expostos os negativos digitais, alguns materiais e imagens de processo, bem como o “diário de bordo” da revelação das imagens

Também foram expostas as séries Serpente (2009) e Serpente em Madeira (2015).


Religare I a V














Religare X a XII

Religare I a IV.



Módulo com materiais e imagens do processo

À frente, negativos digitais usados no processo. Ao fundo, testes de revelação.

Ao fundo, série Serpente sobre Madeira. À direita, série Serpente.