segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Mas afinal, o que é fotografia artesanal?

Quando as pessoas vêem meu trabalho, me perguntam como eu “imprimo” as fotos. Na verdade não é  uma impressão, e sim revelação.
Animus, 2013. Variação de cianótipo com viragem de chá preto sobre papel.




















Para entender o que é fotografia artesanal, precisamos relembrar o que é um papel fotográfico. O papel fotográfico é um papel produzido industrialmente, que tem uma superfície coberta por uma camada de emulsão sensível à luz. Essa substância é uma gelatina combinada a sais fotossensíveis.
Quando esse papel é exposto à luz (por exemplo, a luz do ampliador em um laboratório), as partes que receberam luz reagem, e as partes que não receberam luz não reagem. O papel continua branco, mas quando é mergulhado na solução do banho revelador, a imagem começa a aparecer.
Quem já teve experiência em laboratório fotográfico sabe que esse processo é meio mágico. Por mais que estejamos acostumados às facilidades da tecnologia digital, ver a imagem surgir no papel é outra história! 

Depois do banho revelador, o papel é mergulhado em um banho interruptor e depois no fixador. Por ultimo, o papel é lavado em água corrente. Esse é o processo para revelar uma imagem no papel fotográfico PB.
Quando estamos falando de fotografia artesanal, o processo é parecido. Mas, em vez de usar o papel fotográfico, o artista/fotógrafo usa um papel comum, e aplica manualmente uma emulsão fotossensível. Outra aspecto é que não há ampliação, então a imagem final será do mesmo tamanho do negativo/matriz.
A Praia, 2012. Goma bicromatada sobre papel.






















Ensaio Circense II, 2012. Cianótipo sobre papel.




























Para as minhas fotos, eu preparo a emulsão com os químicos e depois aplico em um papel (geralmente papel de aquarela, que absorve sem ficar encharcado). Depois de seco, coloco em cima do papel o negativo da imagem a ser feita (pode ser um fotolito, ou uma imagem impressa em uma transparência) e por cima uma placa de vidro, que serve para manter o negativo junto ao papel. Esse conjunto vai ser exposto à luz (geralmente a luz do sol), e depois revelado em banho químico, que varia de acordo com a técnica.
Montagem do papel sensibilizado com o negativo e o vidro por cima.



















Como o processo é artesanal, é bastante impreciso. As tonalidades podem ficar diferentes de uma cópia para outra, pode ficar mais ou menos escura, mais ou menos contrastada. Tudo isso faz parte da aventura de trabalhar com fotografia artesanal: uma imagem nunca fica igual à outra.
Existem diversas técnicas de fotografia artesanal; eu já realizei trabalhos com Van Dyck Brown, Cianotipia e Goma Bicromatada. Em breve escreverei sobre cada uma.

Para quem quiser se aprofundar no assunto, recomendo o livro Fotografia Pensante, de Luiz Monforte, que traz as "receitas" dos processos alternativos de fotografia. O livro está esgotado faz tempo, mas vale a pena procurar em sebos e bibliotecas. O blog Alternativa Fotográfica também tem um bom conteúdo, com as experiências de Fabio Giorgi.
Fotografia Pensante, o livro que foi o meu guia para começar.

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