Hoje retomo o tema da fotografia artesanal, trazendo uma técnica que uso bastante: a goma bicromatada, ou goma arábica. Esta prática é feita com uma emulsão fotossensível de goma arábica e dicromato de potássio. A mistura é praticamente incolor, e por isso adicionamos um pigmento - geralmente aquarela- a essa emulsão, gerando imagens monocromáticas ou policromáticas.
O processo é semelhante a outras técnicas artesanais de fotografia: aplica-se a emulsão no suporte, que depois é seco e, em contato com um negativo, é exposto à luz. Apenas as partes da emulsão que receberam luz endurecem. A revelação então é feita em água, dissolvendo as partes que não receberam luz, e tornando a imagem visível.
Você pode encontrar o passo a passo no livro Fotografia Pensante, de Luiz Monforte, que eu já citei em posts anteriores, e no blog Alternativa Fotográfica.
Apesar dessas semelhanças, a goma tem o diferencial de ser especialmente passível de intervenções, possibilitando maior presença da subjetividade do artista. As manipulações diretas na imagem, juntamente com o trabalho em camadas de cor, aproxima a técnica da pintura e da gravura.
O tempo da revelação varia de acordo com o papel utilizado, com a concentração da emulsão, e também com o resultado que se deseja obter. Durante o processo da revelação, podemos usar uma esponja para limpar as áreas que desejamos deixar mais claras.
Se a proposta é uma fotografia com mais de uma cor, é preciso realizar uma nova sensibilização do papel, e depois uma nova revelação. Em uma imagem em três cores, cada cor é feita com um negativo diferente, e um novo processo de revelação. Vale lembrar que o papel precisa ser resistente para aguentar esses sucessivos banhos. Para obter uma imagem nítida, as impressões devem sair todas na mesma posição, sendo necessário fazer um registro -porém ignorar o registro também é uma opção, caso se queira uma imagem não "encaixada".
Variações da série A Praia, feitas com os mesmos negativos.
A da direita em goma bicromatada e as outras duas em
cianótipo e goma bicromatada. |
Minhas primeiras experiências com a goma.
Bastante trabalho até conseguir uma boa revelação...
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A goma é uma técnica bem difícil de fazer quando se está começando. Eu joguei muito papel fora até conseguir um resultado decente. A emulsão é espessa, o que dificulta uma aplicação razoavelmente uniforme no papel. Também a quantidade de pigmento precisa ser bem calculada, ou a imagem pode ficar muito lavada ou muito carregada, perdendo definição. Normalmente a fotografia em goma tende a ser menos definida, e por isso muitas vezes eu faço em conjunto com o cianótipo. É uma forma de conseguir trazer mais detalhe para a imagem final, já que o cianótipo costuma gerar imagens mais nítidas.
Animus. Amanda Branco, 2012.
Goma bicromatada e cianótipo sobre papel.
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Serpente. Amanda Branco, 2014. Goma bicromatada sobre papel. |
Animus. Amanda Branco, 2013. Goma bicromatada sobre papel. |
Com todas essas variáveis, é impossível fazer duas cópias iguais de fotografia em goma bicromatada a partir do mesmo negativo. Quando comecei, eu fazia numerações nas impressões, seguindo a clássica definição para gravura em que além da assinatura o artista deve marcar o número total da tiragem e o número de série da gravura (convencionada no III Congresso das Artes em Viena, 1960). Depois cheguei à conclusão de que isso não faz sentido quando estamos trabalhando com fotografia artesanal. Cada uma das impressões é única; e eu não pretendo fazer delas uma cópia. Prefiro então marcar em todas a notação P.U. (prova única).
Serpente em Madeira. Amanda Branco, 2015.
Goma bicromatada sobre madeira.
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Acredito que essa é a minha técnica favorita por que
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