quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Curso de Fotografia Artesanal: Goma Bicromatada

Animus I, Amanda Branco. Goma bicromatada e cianótipo sobre papel.




















A goma bicromatada é uma técnica que foi desenvolvida no século XIX, antes da industrialização da fotografia. Utiliza pigmentos, geralmente aquarela, podendo criar imagens monocromáticas ou policromática. A proximidade com a pintura e a gravura tornou a técnica atrativa para os fotógrafos do Pictorialismo. Foi bastante usada por Robert Demachy e Edward Steichen. 

Hoje é utilizada por artistas e fotógrafos que buscam explorar o potencial plástico do meio, muito aberto a intervenções, recortes, fotomontagens... Os resultados variam bastante dependendo do papel utilizado, do tempo de exposição, da concentração do pigmento, da forma de aplicação da emulsão, do tempo de revelação, entre outras. Confira o trabalho primoroso da série Alegorias Brasileiras, de Luiz Monforte, para ter uma idéia das possibilidades da técnica!
O curso que faremos na Oficina Cultural Oswald de Andrade tem como objetivo permitir que os participantes conheçam e explorem algumas possibilidades da técnica. Ao longo dos encontros, vamos preparar os papéis fotográficos e realizar fotogramas (fotografia sem câmera); e fotografias a partir de negativo (feitos com imagens digitais), reveladas em uma cor e a três cores. Também poderá ser usado o tecido como suporte alternativo ao papel, trazendo novas possibilidades e leituras à imagem fotográfica.

Será uma oportunidade de renovar a sua visão sobre a produção fotográfica através de uma técnica antiga e artesanal!

Estudo, Amanda Branco. Goma bicromatada sobre papel.


Animus II e os três negativos utilizados. Goma Bicromatada e cianótipo
 sobre papel
































Fotografia em processo da Luanda Moraes - goma bicromatada a três cores.



















OFICINA DE FOTOGRAFIA ARTESANAL: GOMA BICROMATADA
Coordenação: Amanda Branco
10/10 a 28/11 – quarta(s)-feira(s) - 14h às 17h
Público: Estudantes, artistas visuais, fotógrafos e interessados em geral.
Local: Oficina Cultural Oswald de Andrade
Rua Três Rios, 363 - Bom Retiro - São Paulo/SP
Inscrições: até 3/10 - 12 vagas
Seleção: Carta de interesse

segunda-feira, 30 de julho de 2018

Clichê Verre - primeiros experimentos


Precisei dar um tempo no blog, e agora estou de volta. Consegui resolver outras coisas como o tão esperado (por mim pelo menos!) site oficial. Se você ainda não viu, pára tudo e vai lá: 
Agora vou compartilhar os primeiros experimentos que realizei com clichê verre. O clichê verre é uma técnica híbrida que nasce do encontro da fotografia com a gravura. A matriz é feita com uma chapa de vidro (também pode ser de acrílico ou acetato), que será pintada com tinta preta. Posteriormente o desenho será gravado nela, riscando-se a tinta com uma ponta seca.

Eu achava que seria mais complicado, pois havia visto no livro Fotografia Pensante a recomendação de usar tintas de gravura. Mas recentemente a artista e gravurista Néia Martins (confira a beleza do trabalho dela aqui: https://www.instagram.com/neiavancatarina/) me deu a dica de que é possível fazer com nanquim, material que eu já tinha em casa, o que tornou o processo bem simples. 

Então esses foram os procedimentos: apliquei uma camada de nanquim em uma chapa de vidro. Primeiro tentei com nanquim escolar da marca Acrilex, e não deu funcionou muito bem. A cobertura ficou ruim e fiz uma segunda camada, que ficou ainda bem irregular, e algumas áreas simplesmente não secavam, a tinta não aderiu bem ao vidro. 

Então usei um nanquim profissional, da marca Talens. A chapa não parecia muito uniforme e eu tentei aplicar uma segunda camada, mas logo percebi que não ia dar certo pois estava estragando a camada de baixo. Então trabalhei com apenas uma camada mesmo.
Preparo da matriz para gravação.

Com o nanquim escolar: pouca aderência



































O plano era fazer um desenho com algum lápis que aparecesse sobre o fundo preto, e depois gravar usando uma ponta metálica. Eu não tenho a ponta seca específica para gravura em metal, então procurei alternativas. Usei um lápis sépia para desenhar e para minha surpresa, aplicando alguma pressão ele arranhou o naquim, produzindo incisões com traços grossos. Para detalhes finos usei uma ponta de compasso, que funcionou muito bem, produzindo um traço bem mais fluido que o lápis. 
Um detalhe importante: se você for trabalhar com chapa de vidro, eu recomendo espelhar o desenho antes de gravar. Assim, na hora de expor à luz o lado da gravação pode ficar para baixo, garantindo que esteja em contato com o papel. Se o lado da gravação ficar para cima, há o risco de perder nitidez devido à espessura do vidro. 

Gravando com um lápis!

Detalhe da chapa gravada































Com a chapa pronta, era hora de fazer os testes. Revelei usando cianótipo sobre papel e sobre tecido. Eu pensava que no tecido os detalhes mais finos poderiam se perder, mas curiosamente eles ficaram mais marcadas do que no papel, produzindo um desenho mais contratado. Porém os dois resultados ficaram satisfatórios. Considerando que eu já tinha os químicos de cianótipo, o processo se mostrou uma gravura a um custo bem baixo, além de ser  muito fácil reutilizar as chapas: basta lavar com água (portanto, se não quiser estragar a matriz gravada, não deixe molhar!). A técnica pareceu bem promissora, e já vejo possibilidades de unir os desenhos em vidro com negativos fotográficos ou fotogramas! Mais possibilidades criativas surgindo!
Revelação em cianótipo sobre papel
Revelação em cianótipo sobre algodão




segunda-feira, 14 de maio de 2018

Negativos de papel vegetal

Continuando a minha pesquisa com negativos de papel, fui inspirada pelo trabalho da artista Andréa Brächer a testar uma técnica bem simples: o negativo de papel vegetal.
Brächer explorou belamente esta técnica em algumas de suas séries fotográficas que abordam o imaginário infantil. Vale conferir Fairies e Hauted House.

Para fazer esses negativos, simplesmente imprimi em papel vegetal as imagens negativas, usando minha impressora jato de tinta. A princípio já dá para ver que o material é mais transparente que o papel encerado, além de mais fácil de fazer. Escolhi propositalmente duas imagens com pouco contraste, para sentir a dificuldade de revelar com este tipo de negativo.

À esquerda, negativos de papel encerado. À direita, de papel vegetal.


















Os testes que fiz usando cianótipo foram  promissores! Não costumo fazer tira de testes com frequência por trabalhar com luz natural, que é muito variável, mas às vezes o teste ajuda mesmo assim. Para começar a usar esse tipo de negativo, achei importante fazer a tira de testes - na verdade, foi a imagem inteira.

"Tira" de testes

A imagem aparece com listras verticais, mostrando que cada coluna desta foi exposta com um tempo diferente. Fiz as exposições com intervalos de 5 minutos, então a coluna mais clara ficou cinco minutos no sol e a mais escura ficou 25 minutos. Aí cabe ao fotógrafo/ artista decidir qual foi o tempo de exposição que apresentou um resultado mais interessante. Eu fiquei na dúvida entre os 10 e 15 e acabei optando por 10 minutos para não escurecer demais o céu. Poderia ter escolhido também um meio termo, 12 ou 13 minutos.
Então, com 10 minutos de exposição, consegui estas imagens:





Como você pode ver, as imagens têm baixo contraste e não são tão nítidas. Mas isso pode ser diferente usando imagens mais contrastadas.
O negativo ficou com ondulaçoes por ficar muito tempo no sol, o que ocasionou marcas verticais na imagem da paisagem rural. Então percebemos que ser negativo não é tão resistente mas é propício para intervenções.
A paisagem urbana ficou um pouco mais clara, até parece transparente e imaterial. Dá a impressão de ser uma imagem bem mais antiga do que é, como uma memória que está se apagando. Novamente o resultado é interessante, dependendo do que se busca.

Também realizei testes com goma bicromatada, mas este processo continua sofrível! A da direita foi feita em um papel impermeabilizado, e a goma descolou quase completamente. E nas outras o resultado não é muito melhor... Vai ficando  evidente que para fazer a goma é necessário um negativo com mais contraste. Ainda existe a possibilidade de testar o negativo de papel vegetal com uma imagem mais contrastada, mas esse experimento é algo para outro dia.















Para o cianótipo, porém, o negativo de papel se mostra uma alternativa simples e barata com resultados satisfatórios. Vou incorporar este tipo de negativo em meus trabalhos! 

terça-feira, 17 de abril de 2018

Negativo de Papel Encerado - Primeiros experimentos

Olá pessoal!
Algumas semanas atrás postei no Instagram o negativo de papel que eu estava preparando, e hoje quero mostrar os primeiros experimentos que realizei com esse tipo de negativo.
O negativo de papel é uma forma de baratear o processo fotográfico. As imagens produzidas assim têm como características serem menos nítidas, pois incorporam a textura do papel em que foi feito o negativo, e podem apresentar um contraste menor também.
Pode ser uma boa opção se você quer incorporar esses aspectos no seu trabalho.

Meus negativos em papel encerado.



















O preparo do negativo com vaselina.



















Preparei os negativos de papel da seguinte forma: imprimi a imagem negativa em papel sulfite com uma impressora jato de tinta. Com a imagem seca, apliquei vaselina líquida no verso do papel e esfreguei com uma toalha de papel - isso deixa o papel transparente. Passei o papel toalha até não restar nenhum resíduo de brilho no negativo. Depois deixei esse negativo entre duas folhas de papel toalha com um livro em cima para fazer peso por uns 30 minutos, para retirar qualquer excesso da vaselina.
A minha impressora não tem uma qualidade muito boa, outra impressora poderia fazer um negativo mais nítido.
De qualquer forma quis fazer o teste. Imprimi 3 fotos em negativo, duas paisagens e uma miniatura de uma das imagens da série Religare. Esta última era a única que estava bem contrastada; as duas paisagens não tinham muita variação de tons, e isso deve ter dificultado o processo.

Primeiro fiz testes usando goma bicromatada, e nenhuma ficou boa; não conseguia abrir as luzes. As imagens provavelmente ficaram superexpostas. Com bastante esforço, passando a esponja no papel molhado, as luzes abriram só um pouco. A imagem que apareceu um pouquinho mais foi a miniatura da série Religare, acredito que devido ao contraste mas definido. Em outro momento quero tentar de novo, talvez com uma encolagem no papel. Mas isso será assunto para outro post.

Tentativas de revelar em goma Bicromatada... 
Sofrência! :p


















Depois fiz um teste com cianótipo. A primeira imagem ficou subexposta. Estava um pouco complicado definir o tempo de exposição nesse dia, pois havia sol com algumas nuvens, o que causava variações na luz natural ao longo do processo. Fiz uma nova tentativa, com exposição três vezes mais longa, e finalmente consegui uma imagem bem exposta!

Primeira tentativa em cianotipo: 
Imagem subexposta.
Segundo tentativa em cianotipo,  a imagem ficou 
bem exposta :D

Gostei bastante desse resultado! A baixa nitidez cria uma atmosfera que pode acrescentar em  alguns trabalhos. Vou compartilhar aqui quando tiver mais experimentos com negativos de papel.

Se você se interessou pela técnica, veja mais sobre o negativo de papel aqui.

segunda-feira, 26 de março de 2018

Curso: Cianotipia e Goma Bicromata

Fotografia revelada em cianótipo com negativo 
digital.



















Olá pessoal !

Já publiquei nas redes sociais, mas anuncio aqui também:
Estão abertas as inscrições para o curso de fotografia artesanal que farei na Oficina Cultural Oswald de Andrade.

A fotografia artesanal compreende os processos fotográficos históricos do século XIX, e atualmente esses processos são utilizados por artistas e fotógrafos que buscam explorar o potencial plástico de uma fotografia menos comprometida com a documentação da realidade, abrindo-se para possibilidades criativas.

Trata-se de um sistema aberto a intervenções, que possibilita o uso criativo do meio. No curso, vamos preparar nossos próprios papéis fotográficos, trazer imagens digitais para produzir os negativos, e também faremos a revelação das imagens.

Ao longo dos encontros, serão desenvolvidos exercícios com fotograma (fotografia sem câmera), revelação de negativo monocromático em cianótipo usando papel e tecido, viragem de chá preto, revelação de imagem em goma bicromatada monocrática e a 3 cores.

Fotografia revelada em cianótipo com viragem de
chá preto.













Fotografia revelada em goma bicromatada
com três cores, e os negativos utilizados.
























Local: Oficina Cultural Oswald de Andrade. Rua Três Rios, 363 - Bom Retiro, São Paulo.
Data e Horário: 5/4 a 24/5 – quinta(s)-feira(s) - 14h às 16h

Faça a sua inscrição nesse link.

segunda-feira, 19 de março de 2018

Pequenos Cianótipos

Autorretrato. Amanda Branco, 2012. Cianótipo sobre papel.

























Hoje vou mostrar alguns exercícios que fiz tempos atrás. Usualmente eu trabalho com formatos grandes de fotografia, no mínimo tamanho A4. Mas ocasionalmente faço experimentos em tamanhos menores.
As imagens deste post foram feitas em cianótipo usando no lugar do negativo impresso o próprio filme médio formato, que cliquei com a  minha câmera lomo Diana. Isso foi possível porque o filme era PB, e apresentou um bom contraste.

O negativo utilizado.

O resultado ė uma imagem sem retícula e mais nítida, pois a imagem no filme é contínua e com maior definição do que o negativo impresso. Porém, o papel de aquarela apresenta uma textura, então a imagem  revelada é menos precisa do que as realizadas sobre o papel fotográfico tracicional PB.

Como a imagem em cianótipo é feita por contato, o resultado final é do tamanho do negativo: são imagens pequenas,  com cerca de 7 cm de largura.
O registro digital, feito de forma a ampliar essa revelação, enfatiza as diversas "imperfeições", que na verdade são indícios da materialidade do meio: a textura do papel, riscos no negativo, e até as inscrições de marca e tipo do negativo.

Autorretrato II. Amanda Branco, 2012. Cianótipo sobre papel.

























Os dois autorretratos foram feitos sem Flash, diante de uma janela que iluminava principalmente o rosto. Isso deixou o restante da imagem escuro, o que junto com a cor do cianótipo e a textura do papel, cri uma aura de mistério nas fotografias.

Sem título. Amanda Branco, 2012.
Cianótipo sobre papel.


























A imagem acima foi clicada usando uma lente olho de peixe, que criou um aspecto esférico na paisagem de árvores. Aqui também foi utilizada a técnica do fotograma: coloquei uma pulseira sobrepondo o negativo, e ela parece se enrolar na "esfera" criada. As formas arredondadas traz em dinamismo para a cena, que parece flutuar no espaço.

Esses exercícios são exemplos de como para criar usando processos artesanais de fotografia, não é necessário seguir uma fórmula pronta. Conforme se compreende o funcionamento dos processos, com diferentes experimentos, são percebidas cada vez mais possibilidades que podem ser incorporadas na sua criação.

Nota: A série sobre nudez na arte ainda continua, mas estava inviável fazer um post com tema novo de história da arte toda semana, porque envolve pesquisa, e o texto demora mais para ficar pronto. Então, vou alternar os posts da série com outros sobre os meus processos em arte.

segunda-feira, 5 de março de 2018

Nudez na Antiguidade Grega

Discóbolo., c. 450 a.C. Cópia romana em
mármore 
da original em bronze de Myron, 
altura 155 cm. Museo Nazionale Romano, Roma.



























Como a história da Antiguidade Grega faz parte do currículo escolar, na disciplina de História e possivelmente em Artes, achei importante incluir uma nota da arte grega nessa série sobre nudez. 

Há uma grande quantidade de nus masculinos nas esculturas em mármore e também em outros suportes, como na pintura em cerâmica. A nudez maculina era uma forma de enfatizar o vigor físico  e a perfeição do corpo. Já o corpo feminino não costumava aparecer nu. As mulheres apareciam normalmente vestidas. A figura feminina que costuma aparecer nua ou com o torso descoberto é Afrodite, deusa da beleza e do amor. A nudez de seu corpo evoca sensualidade e os gestos mostram delicadeza. 

Vênus de Milo.c 200 a.C.
Mármore. Altura: 202 cm; Louvre, Paris.
Por Livioandronico2013 - Obra do 
próprio, CC BY-SA 4.0, 
https://commons.wikimedia.org/w/
index.php?curid=54858474






























A sociedade grega valorizava o corpo como um todo. Acreditava-se no conceito de calor corporal: os homens teriam maior calor corporal do que as mulheres, o que conferia a eles maior vigor físico. As mulheres apresentavam menor calor corporal, e eram por isso submissas.
Um homem saudável não precisaria de roupas para manter o corpo aquecido, e por isso, em amibientes de atividades exclusivamente masculinas, eles costumavam se apresentarem nus ou com roupas largas, que  não escondiam seus corpos. Já às mulheres não era permitido que se mostrassem nuas.

Oficina de um escultor grego, c. 480 a.C. Cena do lado inferior de uma taça.
À esquerda, fundição em bronze com esboços na parede, à direita,
homem trabalhando numa estátua sem cabeça.
Diâmetro: 30,5 cm. Antikensammlung Staatliche Museen, Berlim.


















Para quem quer aprofundar, há bastante material sobre a representação do corpo na arte grega. Recomendo alguns:

Livros:
A História da Arte, de E. H. Gombrich;

Uma Nova História da Arte, de Jullian Bell;
  
Capitulo Breve Histórico da Representação social do Corpo - do Egito ao século XIX, do livro O Corpo como Suporte da Arte, de Beatriz Ferreira Pires;

Vídeo: 
The Human Body in Greek art and Society - em inglês, não tem legendas :/ https://www.youtube.com/watch?v=NfWd9QZfils&t=69s

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Nudez na minha produção


Serpente IV, Amanda Branco. Van Dyck Brown sobre algodão. 
2009




Neste momento abordar o tema da nudez em arte é bastante necessário, para não nos perdermos em extremismos. O post anterior foi pouco divulgado no Facebook, e quando tentei impulsionar a publicação na minha page, o anúncio não foi autorizado, porque não são permitidos anúncios contendo nudez, mesmo que seja artística. A imagem que aparecia nesse post no Facebook é aquele detalhe do teto da Capela Sistina. Ou seja, uma imagem que está exibida dentro de uma igreja foi censurada pelo Facebook! Entendo a procupação de se querer evitar pornografia na rede social, mas também acredito que as coisas não precisam ser assim extremas! Existe muito sobre nudez além da pornografia.

Então, continuando a série sobre nudez nas artes, vou abordar um pouco sobre a minha própria produção. Espero conseguir mostrar porque esse tema é tão importante para mim.
Religare VII, Amanda Branco. Goma Bicromatada sobre madeira. 2017



















Para começar, a arte muitas vezes usa linguagens simbólicas e alegorias. A imagem de uma pessoa nua não precisa ser entendida de forma literal. A nudez pode evocar sensações e idéias que compõe uma poética, o que é um motivo para aparecer na arte em diferentes contextos.

Nudez caracteriza-se como a ausência de roupas. A roupa é social: é algo que escolhemos mostrar ao outro que nos olha. Pode trazer informações sobre cultura, etnia, status, idade, personalidade... E em geral é pautada pelo gênero, mas isso atualmente está sendo questionado por algumas pessoas.

Já o corpo nu está desprotegido, tanto do frio quanto do olhar alheio. Pode então transmitir a sensação de vulnerabilidade, ou de empoderamento, dependendo de como é retratado. Nas minhas fotografias, busco uma imagem mais próxima da "essência" da pessoa, do que o corpo coberto com camadas de tecido, que podem funcionar como uma máscara. Ao vermos uma pessoa nua, a pessoa se sobressai, ficando seu status social, sua localização geográfica etc em segundo plano... É como se estivéssemos visualizando o ser humano que está muitas vezes escondido sob camadas de cultura. A nudez aparece como estar despido de tudo o que não faz parte de sua natureza, de tudo o que é socialmente construído.

Aqui pode haver uma aparente contradição: nas minhas fotografias o corpo aparece coberto por grafismos, pinturas corporais. Para algumas pessoas isso pode ser percebido como uma roupa, como o que foi escolhido mostrar. Porém, em uma sociedade como a nossa, não seria um traje aceitável para se usar em locais públicos. Não esconde o que as roupas costumam cobrir, então ainda conserva boa parte da característica da nudez. Esta aparece como escolha poética, como uma tentativa de lembrar que somos muito mais do que o que nossas roupas mostram.

Animus V, Amanda Branco. Cianótipo e Goma
Bicromatada 
sobre papel. 2012


























Emacipação, Amanda Branco. Acrílica sobre tela. 2016

























Religare VI, Amanda Branco.
Goma Bicromatada sobre 
madeira. 2017

Serpente IX, Amanda Branco. Van Dyck Brown sobre papel. 2009


segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

A Nudez na Arte e Nudes Pré-Históricos

Detalhe do teto da Capela Sistina - Estado do Vaticano, 1508-1512.
Afresco de Michelangelo. Imagem daqui:
https://www.thevintagenews.com/2016/06/08/44775-2/





















Semana passada recebi a notícia do Projeto de Lei 8740/17 em tramitação que visa criminalizar a representação de órgãos genitais em obras de arte. Isso é no mínimo estranho considerando séculos de história da arte, em que pinturas de nus aparecem até mesmo no interior de igrejas. Faz sentido criminalizar o acervo de diversos museus?? A justificativa para esse projeto de lei foram as polêmicas ocorridas em 2017, envolvendo a exposição “Queermuseu - Cartografias da Diferença na Arte Brasileira”, realizada no Centro Cultural Santander, em Porto Alegre (RS); e a performance “La Bête”, de Wagner Schwartz, realizada no MAM. Houve diversas críticas ao fato da exposição Queermuseu ter sido visitada por escolas, e pelo fato de uma criança ter interagindo com o artista nu na performance “La Bête”, tocando o seu pé e a sua mão, o que levou a acusações de pedofilia.

A questão da nudez na arte e a erotização de crianças tem milhares de tons entre o preto e o branco... tantas variáveis! Eu absolutamente não defendo a erotização infantil.
Para começar, nem toda obra de arte precisa ser feita para crianças. A arte pode tratar de temas mais pesados, como guerra e violência, e se isso for inapropriado para crianças, não significa que o assunto não deva ser abordado. É o caso de se adotar um aviso com indicação de faixa etária na entrada da exposição, por exemplo. E então, sabendo do conteúdo, os pais ou responsáveis podem decidir se levam a criança a essa exposição.

Também é importante ressaltar que abordar temas pesados não significa fazer apologia. O tema pode ser criticado também. Mas proibir um assunto é uma forma de ignorar o problema, e evitar que seja feito algo a respeito. Não ajuda.

Mas a minha principal motivação nesse tema é: a nudez não é apenas sobre sexo e erotização (e também vale dizer, uma imagem pode ser altamente erotizada mesmo sem apresentar nudez). A nudez tem muitos contextos. Na História da Arte, aquela oficial dos livros de história, vemos nus desde a Antiguidade Clássica, passando pelo Renascimento, incluindo pinturas de homens e mulheres nus, e anjinhos com aspecto de crianças... E prossegue, em pinturas do Realismo, em fotografias, na Arte Moderna... e na Arte Contemporânea também não é diferente.

Pensando nisso, decidi fazer uma série de posts com o tema nudez na Arte, mostrando diferentes contextos culturais e possivelmente diferentes aspirações para essas representações. "Arte" aqui aparece no sentido mais amplo, incluindo produções imagéticas ou plásticas de outros períodos e povos que não necessariamente consideravam o que produzem como "arte", mas que hoje entendemos como uma produção cultural, como é caso das pinturas rupestres. Neste primeiro post apresentarei brevemente algumas representações pré-históricas.


Nudes Pré-Históricos 

A imagem da nudez é possivelmente tão antiga quanto a própria representação da figura humana. Uma das primeiras representações humanas que se tem notícia é a Vênus de Hohle Fels ou Vênus Impudica, encontrada na Alemanha, e que data de pelo menos 35 mil anos atrás. A estatueta tem 6 x 3,5 cm e apresenta os caracteres sexuais enfatizados: seios, nadegas e genitália destacados. No lugar da cabeça há apenas uma espécie de gancho, sugerindo que a peça seria usada como pingente. Especula-se que a estatueta esteja associada à busca por fertilidade, o que para povos do Paleolítico Superior seria uma questão crucial relacionada à sobrevivência do grupo.
Vênus de Hohle Fehls. Imagem daqui: 
https://www.thevintagenews.com/2016/06/08/44775-2/




















Um pouco mais conhecida que a Vênus de Hohle Fels é a Vênus de Willendorf, encontrada na Áustria, e que data de 22.000 a 24.000 anos atrás. Representa uma mulher com o ventre grande e redondo, e seios enormes. Esta imagem também parece celebrar a fertilidade, representando uma mulher grávida ou gorda. As Vênus são estatuetas bastante estilizadas, priorizando o que, no contexto em que foram feitas, era o mais importante.
Vênus de Willendorf. Imagem daqui: 
http://www.kenneymencher.com/2016/09/
why-is-venus-of-willendorfso-important.html






















Um pouco mais recentes, as pinturas rupestres do Parque Nacional da Serra da Capivara -PI datam entre 12.000 e 6.000 anos atrás. Esses homens pintados também são bastante estilizados, e aparecem com o pênis erguido. Infelizmente, não encontrei estudos sobre o motivo de aparecem assim. Quando se trata de pré-história, os significado e motivações das representações é em geral especulativo, baseado nos indícios que são encontrados. Aqui no mínimo temos a informação de que se trata da representação do sexo masculino.
Pinturas rupestres do Parque Nacional da Serra da Capivara
Imagem daqui: http://atlantablackstar.com/2014/07/31/5-pieces-
of-evidence-that-show-black-people-were-the-first-in-the-americas/3/



















 
Pinturas rupestres do Parque Nacional da Serra da Capivara
imagem daqui: https://www.viajenaviagem.com/2013/10
/vnvbrasil-serra-da-capivara-senta-que-la-vem-pre-historia/

















Para saber mais sobre essas obras pré-históricas, confira: 

https://vimeo.com/64601937
https://youtu.be/Y8noVoCsYGs
http://www.nytimes.com/2009/05/14/science/14venus.html
http://oridesmjr.blogspot.com.br/2013/09/arte-rupestre-do-brasil-tradicao.html

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Fotografias em Dégradé

Árvores com degradé vertical.

Nas últimas semanas eu postei no Instagram alguns exercícios que tenho feito usando goma bicromatada. A ideia era criar imagens com mais de uma cor, com apenas um negativo. Na hora de aplicar a emulsão no papel, criei um degradê do vermelho ao verde. É difícil fazer mesclas durante a aplicação da goma no papel, mas acredito que com um pouco mais de prática isso deve fluir melhor. 

Na próxima vez haverá mais registros do processo. Muitas vezes eu estou absorta na criação e esqueço de fazer os registros, mas eles são importantes. Dessa vez eu só lembrei de pedir ao Aldrin para filmar uma das revelações, que foi o vídeo postado no Instagram. 

Praia com degradé vertical

Gostei especialmente do resultado desta imagem da árvore na praia. Parece que as cores separam os planos da imagem. Também remete às fotografias analógicas em que houve um vazamento de luz, o que ocasionava manchas geralmente avermelhadas. Nas imagens que revelei, as áreas vermelhas passam a sensação de um dia muito ensolarado, de um excesso de luz, como o que provocaria um vazamento de luz nas fotografias tradicionais.

Os resultados foram bastante animadores, mostrando um potencial criativo. Quero explorar mais essa técnica, e seguir diluindo as fronteiras entre a goma bicromatada e a pintura.

Da série Serpente, com degradé horizontal.

Da série Serpente, com degradé vertical.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Como Revelar Gomas Gigantes


Para revelar uma goma gigante você vai precisar de:
- um negativo gigante;
- um suporte gigante;
- uma mesa de luz gigante luz solar;
- uma placa gigante de acrílico transparente;
- goma arábica;
- dicromato;
- pigmentos - bastante!;
- espatula de misturar tintas;
- bandeja de pintar parede;
- pincel largo;
- secador de cabelos;
- tecidos- podem ser toalhas ou panos de chão;
- mangueira.

As imagens da série Religare tem grandes dimensões, chegando a 1m x 1,60m. O tamanho das imagens foi um desafio, e com alguma persistência, consegui revelar. A técnica foi adaptada para a revelação sobre madeira e em grande escala.

Para começar -depois de ter realizado o ensaio- foi necessário imprimir o negativo. Encontrei na Galeria do Roc uma loja que faz a impressão de fotolitos por metro, e assim pude fazer o negativo gigante. O primeiro ficou no tamanho de 88 cm x 150cm, um pouco menor que a placa de compensado usada como suporte.


















Depois procurei a melhor forma de aplicar a emulsão na madeira. Cheguei à conclusão de usar uma bandeja de pintar parede e um pincel bem largo.

Notem também que eu estava trabalhando de luvas sempre. 
Os químico de fotografia podem ser bastante tóxicos...
É sempre necessário ter cuidado.


















Então era necessário secar completamente a emulsão, com um secador de cabelos, para fazer a exposição à luz. E não funciona preparar o suporte na véspera. Se demorar muito para fazer a revelação, a goma endurece e não abre as luzes. Pra funcionar bem, precisa fazer a aplicação da emulsão e a exposição à luz no mesmo dia.

Secando com secador de cabelos















Na exposição à luz, substituí a placa de vidro por uma placa de acrílico, por que é um material seria mais leve e mais seguro de manusear. Mesmo assim, era uma placa bem pesada! Achei que não ia conseguir carregá-la, mas fui encontrando um jeitinho e acabou funcionando. Fiz a minha placa tem 8mm de espessura com receio de que se fosse mais fina correria o risco de empenar. Mas acredito que daria para fazer a placa um pouco mais fina para deixar ela mais leve.















Para a revelação em água, eu não tinha uma bandeja gigante, então usei compressas para amolecer a goma.

















Por fim, o banho de água corrente foi feito com mangueira.





Enfim, foi um processo bastante experimental,  com tentativas e erros, que alcançou resultados positivos. Essa parte de inventar a técnica é importante para o processo criativo. No mínimo, mostra que o artista não precisa se manter dentro de tecnicas e formatos preexistentes para criar. É possível transcender estes formatos.