Moringa em cerâmica branca e terracota. Amanda Branco |
Depois de um tempo trabalhando com fotografia artesanal e pintura corporal, decidi incluir outro elemento em minha pesquisa para o doutorado: a cerâmica.
Como tinha pouca experiência com esse material, no ano passado participei da oficina de cerâmica da EMIA, com o prof. Fábio, que aliás foi muito bacana, e tem uma ótima experiência artística para compartilhar com os participantes! O meu intuito ao participar da oficina era experimentar e sentir um pouco a técnica, antes de levar adiante o projeto do doutorado.
Mas o que a cerâmica tem a ver com a minha produção, geralmente bidimensional e focada na fotografia artesanal? Por se tratar de um fazer artesanal, a cerâmica pode ter aspecto irregular, pelo menos quando não se usa um molde. Pode trazer a marca da gestualidade impressa na matéria pela modelagem manual, dos dedos, ou com instrumentos, estecas, assim como a fotografia artesanal traz as marcas do gesto com pincel. De certa forma, são atividades que nos ajudam a nos conectar com o corpo. E isso contribui para uma conexão com o momento presente. Pelo menos para mim, como iniciante na cerâmica, não era possível fazer uma peça pensando em outra coisa.
Uma colega estava participando dessa oficina por recomendação médica, por ela ser muito agitada. Acredito que essa necessidade de presença é um dos motivos de o trabalho em cerâmica ser terapêutico.
Outro fator de aproximação: assim como a fotografia artesanal, a cerâmica também parece ter vontade própria, trazendo certa imprevisibilidade ao resultado. Os ceramistas mais experientes vão aprendendo a dominar melhor a matéria e a diminuir as surpresas, mas elas continuam acontecendo ocasionalmente. Dizem que o ceramista está sempre aprendendo, pois trata-se de uma arte com muitas possibilidades técnicas.
Por fim, também penso que as duas práticas, cerâmica e fotografia artesanal, estão relacionadas ao antigo, ancestral: a cerâmica é uma das mais antigas formas de arte da humanidade, e a fotografia artesanal remonta aos primórdios da fotografia.
Peças para colares, em cerâmica branca e terracota. Amanda Branco |
Nesse período de experimentação da cerâmica, me interessei bastante pela técnica do esgrafito, uma forma de desenhar com a própria argila. Provavelmente pela atração que sinto pelos grafismos e desenhos! Para realizar o esgrafito, modelamos a peça com argila de uma cor e então pintamos a superfície com argila de uma cor diferente. Então raspamos com um estilete, palito ou algo semelhante, para deixar visível a cor da argila de baixo.
Com essa técnica decorei a moringa, toda feita a mão (sem torno, por isso com superfície bem irregular!), com cerâmica branca e terracota. Também fiz as peças de serpente e peixe, que vão virar colares assim que eu encontrar um bom cordão para eles. E os quadros de rosa e girassol. Nesse último eu também fiz uma pintura a frio (depois da queima), com tinta acrílica.
Acredito que esse momento de sentir o trabalho em cerâmica foi bem importante, agora tenho um pouco mais de experiência para desenvolver meu trabalho. Vou publicar algumas coisas conforme a pesquisa for avançando.