quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Serpente no Shape e a Fotografia Expandida

Como artista visual, a fotografia é para mim uma ferramenta, tanto quanto a ilustração e a pintura. É mais uma forma de construir imagens, como uma ficção, que pode seguir a mesma lógica do cinema (um roteiro, uma pré-produção, produção e pós-produção).
Esse movimento de tratar a fotografia não só como registro da realidade, mas com intervenções diversas foi chamado por Andreas Muller-Pohle e Rubens Fernandes Junior de Fotografia Expandida, tema que abordei na minha dissertação de mestrado.

O Shape, de 2014, foi a primeira fotografia que revelei sobre madeira, feita em goma bicromatada. É um bom exemplo das diversas intervenções que faço sobre a imagem fotográfica. Usei aqui um negativo da Série Serpente, que aparece repetido, em cima e embaixo, e cada figura olha para uma direção, remetendo à dualidade, a opostos complementares. Ao fundo o desenho da mandala feito com lápis de cor une as duas figuras, que então parecem fazer parte de um todo mais complexo.

Uma parte interessante do processo é que como não atuamos apenas como as técnicas fotográficas já previstas, muitas vezes é necessário inventar a própria técnica. Normalmente para a revelação da goma bicromatada eu uso uma placa de vidro para manter o suporte e o negativo unidos e garantir uma imagem nítida. Como no caso o suporte não era totalmente plano, a placa de vidro não seria eficiente para essa função. A solução que encontrei foi recortar o negativo no formato do shape e embalar o conjunto do suporte com o negativo usando filme plástico PVC. A exposição à luz foi realizada em dois momentos, usando o mesmo negativo e mantendo a parte oposta do shape coberta com um papel cartão preto.

Este trabalho começou bem antes da realização do clique fotográfico, e se estendeu bastante depois. Houve um planejamento da pintura corporal que foi feita para série Serpente, depois alguns testes da pintura corporal, e enfim foi realizado o ensaio fotográfico. Depois, o tratamento das imagens, a impressão do negativo digital que foi usado para este trabalho, para então realizar a revelação nesse shape, e por fim foi realizado o desenho da mandala no fundo. Então percebemos que a fotografia faz parte, mas a obra vai além. Todo o processo é importante, e está relacionado com o que eu quero transmitir com a imagem, com a minha poética pessoal: busca pela introspecção e desenvolvimento da espiritualidade.

O negativo, já meio destruido, com uma 
marcação de caneta corretivo branca para
fazer o recorte



























Shape, 2014. Amanda Branco
Criado para a Mostra Sk8art4life





























































Um comentário:

  1. Esse foi um dos shapes mais enigmáticos que já recebemos como participação na Mostra Internacional Sk8Art4LifeShow...ficamos vários dias tentando imaginar o processo de revelação na madeira.Simplesmente show!!!

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